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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Notícias | Cinema

Rio perde posto de maior produtor de cinema do país

RIO - Se o cenário é cinematográfico por natureza, a história, por trás das telas, perdeu o colorido. Considerado o centro do audiovisual no país, o Rio vem reduzindo sua participação no número de longas-metragens lançados por produtoras sediadas aqui. Tem sido uma queda contínua desde 2004, com um susto em 2012 e, agora, a perda da primeira colocação para São Paulo. No ano passado, o Rio foi responsável por pouco mais de um terço da produção nacional que foi para telas, enquanto os paulistas ficaram com 44%, um recorde para a sua série histórica. Diretores e produtores têm algumas explicações para essa mudança: alto custo da produção local, mão de obra qualificada no mercado paulista, surgimento de produtoras em outros estados e redução dos incentivos por aqui.

Os dados são da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Em 1995, início da retomada do cinema nacional, havia uma supremacia carioca. Dos 14 longas lançados no Brasil, nove foram para as telas graças ao esforço das produtoras do Rio, enquanto cinco saíram das mãos dos paulistas. O Rio teve seus melhores anos em 2001 e 2003, quando foi responsável por 70% dos longas nacionais.

BILHETERIA MAIOR NO RIO

Esse percentual começou a cair no início dos anos 2000, enquanto o de São Paulo, no mesmo período, apresentou alta. Os paulistas chegaram a virar o jogo em 2012, mas a diferença foi de apenas dois filmes produzidos a mais que o Rio. No ano passado, essa margem se ampliou e chegou a dez. Os cariocas colocaram nas telas 40 longas, contra 50 das produtoras de São Paulo.

Outro movimento que tem contribuído para a perda de participação do Rio é o aparecimento de produtoras de outros estados no volume de filmes feitos no país. Em 1995, por exemplo, apenas produtoras de dois estados produziam longas no Brasil. Em 2014, elas já eram de dez estados.

Os produtores cariocas, que desconheciam essas mudanças, são cautelosos. Eles consideram positivo que a indústria do cinema tenha levado ao surgimento de outras produtoras e lembram que, mesmo com esse movimento, os filmes do Rio ainda registram as maiores bilheterias do país. Diretor e produtor de “Mutum” e “Os desafinados”, Flávio Tambellini diz que os números refletem inovações que ocorreram no mercado de São Paulo nos últimos anos:

— Acho normal que São Paulo produza bastante. Cresceu o número de produtoras por lá nos últimos anos. Além disso, muitas produtoras de publicidade de São Paulo passaram a investir em cinema. Acho que outro fator da queda do Rio é o custo da produção. É mais barato fazer cinema em São Paulo do que aqui. No Rio, qualquer locação é sempre mais cara. Outro fator que explica essa mudança é o número de faculdades de cinema em São Paulo. Isso tem ajudado a criar uma mão de obra grande por lá.

Produtora de “Meu nome não é Johnny”, “De pernas para o ar” e “Meu passado me condena”, entre outros títulos, Mariza Leão tem explicação diferente. Ele conta que outros estados têm investido na criação de agências de fomento nos moldes da RioFilme, empresa da prefeitura do Rio. Isso estaria ajudando a disseminar a produção nacional pelas demais regiões do país, o que contribuiu para a perda de participação dos produtores cariocas.

— Existe uma política da Ancine de valorização da produção regional, que vejo como algo muito positivo. Estados que nunca ou quase nunca produziam agora estão fazendo cinema. É o caso de estados nas regiões Norte e Centro-Oeste. Agora, especialmente sobre Rio e São Paulo, é preciso lembrar que os paulistas criaram a sua “RioFilme” e têm apresentado uma política de investimento municipal e estadual forte — conta Mariza, que presidiu a RioFilme nos anos 90.

É PRECISO VOLTAR A INVESTIR

Para a produtora Mariza Leão, a perda para São Paulo não preocupa, porque o Rio ainda tem uma produção bastante relevante em termos de bilheteria. Segundo ela, o estado teve uma política agressiva de incentivo à produção de filmes durante quatro ou cinco anos.

— Houve uma redução nos últimos dois anos no Rio. É preciso voltar a investir mais — afirma a produtora.

Para Rodrigo Latier, sócio da TvZero e produtor de “Bruna Surfistinha”, São Paulo sempre produziu bastante, mas era pouco percebido porque os filmes no Rio têm quase sempre muita visibilidade. Ele, que já produziu em São Paulo, considera o cenário positivo para os profissionais dos dois lugares. Latier filma no Rio a adaptação de Bruna Sufistinha para uma série de TV.

— O carioca tem essa empáfia de achar que o Brasil é ele. Já trabalhei em São Paulo. Eles têm uma boa mão de obra, embora o Rio tenha essa herança histórica de produtor do cinema nacional. A maior referência disso é a RioFilme, e São Paulo acaba de criar a sua (uma agência de fomento nos mesmos moldes). Talvez uma explicação para o aumento da produção lá sejam as facilidades de se obter apoio. Há muitas empresas localizadas em São Paulo interessadas em investir em cinema. Então, isso facilita a vida do produtor. Talvez o que tenhamos de agora em diante seja uma situação de maior equilíbrio entre os dois lugares, o que é positivo — analisa.

A RioFilme apresenta dados favoráveis à produção carioca. Apesar da queda do número de filmes, o órgão informou que, entre os dez longas nacionais mais vistos em 2014, sete foram produzidos no Rio e três em São Paulo. A direção da RioFilme diz ainda que os filmes lançados pelo Rio tiveram um público de 8,7 milhões de pessoas e uma renda total de R$ 100 milhões. Já os de São Paulo contabilizaram 3,5 milhões de espectadores e renda de R$ 43,3 milhões.

NOVAS AGÊNCIAS DE FOMENTO

A presidente da RioFilme, Mariana Ribas, que assumiu o cargo em março de 2105, discorda de que tem havido menos investimentos. Ela lembra que a Bahia também criou uma agência local para incentivar a produção de longas-metragens.

— A tendência é que tenhamos cada vez mais outras agências de fomento. É natural que surjam outras produções. Mas é importante lembrar que o Rio ainda é um polo audiovisual importante do país — ressalta a presidente da RioFilme.

Ela afirma ainda que já há mais de 50 projetos selecionados para o edital deste ano:

— Sobre a possível redução de investimentos, não houve. No ano passado, tivemos um edital de R$ 6 milhões. Este ano, subimos para R$ 7 milhões. Para o edital de 2015, já temos 59 projetos selecionados (entre longas, curtas e obras para a TV) — explica Mariana Ribas.
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