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Domingo, 28 de abril de 2024

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Coletor menstrual diminui incidência de infecções, mas tabu com o método ainda freia seu uso

Foto: Reprodução

Coletor menstrual diminui incidência de infecções, mas tabu com o método ainda freia seu uso
A menstruação é, para muitas mulheres, um martírio. A grande quantidade de sangue, o incômodo pela possibilidade de vazamento e até mesmo as alergias ao algodão fazem com que muitas não consigam se adaptar aos absorventes. É o caso, por exemplo, de Anna Carolina de Moraes, 23, que sempre teve alergia ao absorvente externo.

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“Eu já cheguei a utilizar até anticoncepcional sem intervalos, pra não menstruar, do tanto que achava isso nojento, mas sentia muita cólica com esse método. O OB me incomodava bastante pra ser inserido, e sempre tinha medo de derrubá-lo na hora de ir ao banheiro, sem falar do cheiro de sangue em contato com o ar, que fica muito forte”, conta a cuiabana.


Anna Carolina de Moraes (Foto: Arquivo Pessoal)

Há pouco menos de um ano, no entanto, Anna optou por um método ainda pouco conhecido no Brasil, mas que vem ganhando força: os coletores menstruais. Ela ouviu falar pela primeira vez do ‘copinho’ no Facebook, mas só começou a usá-lo, mesmo, quando uma amiga indicou, dizendo que era muito mais higiênico e prático. “Achei que o copinho era grande e que por isso seria desconfortável, mas ele tem um jeito diferente do OB de ser inserido e, assim, não tenho problemas em usar no dia-a-dia”, explica.

O coletor menstrual é um copinho de silicone cirúrgico, reutilizável, que é inserido no canal vaginal e, ali, cria um vácuo e armazena o sangue. Ele pode ser usado de forma contínua por, no máximo, doze horas e, se for bem cuidado, tem duração de até dez anos.

Elizabeth Othon (Foto: Arquivo Pessoal)
Elizabeth OtonElizabeth Othon, 22, também adquiriu o produto, há dois meses. Ela, por outro lado, o viu pela primeira vez enquanto morava na Escócia (mas soube mais sobre ele nas redes sociais, e também por um vídeo da vlogueira Jout Jout). “A primeira impressão que tive é de que seria uma revolução na questão da sustentabilidade, mas depois me dei conta que essa é uma revolução na maneira com que as mulheres lidam com seus corpos”, afirma Elizabeth.

A ‘revolução’, segundo ambas, está no fato de entender melhor como funciona o corpo feminino. “Com o coletor temos uma noção real da quantidade de sangue, e nos obrigamos a ter contato direto com algo que vem de nós mesmas, retirando o tabu de que o corpo da mulher é sujo”, afirma Elizabeth. Ela também comemora o fato de poder nadar, ir à praia e praticar esportes com ele.

Para a ginecologista Bruna Ghetti do Amaral, o grande problema ainda é cultural: “A gente tem muita dificuldade no Brasil com métodos invasivos, então assim, anel vaginal é algo que a gente nunca consegue começar em consultório... até o DIU. Tudo que envolve manipulação, [quem usa] é um perfil de paciente que já leu sobre isso, pacientes mais modernas”.
Ela explica que o coletor pode ser usado por qualquer mulher, mas que, por ser maior do que um absorvente interno, não é indicado para virgens que se preocupem com o rompimento do hímen, já que com a introdução do coletor ele pode vir a se romper.

Ele é vendido em dois tamanhos, sendo o menor diâmetro indicado para mulheres com menos de 30 anos que nunca tenham tido uma gestação (não importa se o parto foi normal ou cesárea): “Ter ficado grávida ou ter mais de 30 anos leva a uma flacidez desse diafragma pélvico, então geralmente a gente precisa desse coletor, 0, 2 cm maior pra não ficar vazando o sangue menstrual ali”, explica Bruna.

Em relação à higiene, a médica afirma que a grande diferença está no vácuo que o coletor forma quando se abre dentro do canal vaginal: “Na verdade, a intenção quando você coloca o coletor é que ele faça um vácuo ali, colete o sangue e impeça que esse sangue coletado tenha contato com o oxigênio, como tem o algodão do absorvente”, afirma. “Ele é mais higiênico no sentido de não permitir o contato direto da paciente com o sangue, porque ele fica coletado no copinho, e como ele não tem esse contato do oxigênio com algodão, tem bem menos odor durante o ciclo menstrual”, completa.


Como inserir o coletor (Imagem: Ilustração)

Por este motivo, quem usa coletor menstrual está menos propício a ter infecções bacterianas e fúngicas, como a candidíase e a gardnerella. Bruna explica, por outro lado, que existe a questão de o coletor ser reutilizável: “É mais higiênico entre aspas, porque é uma coisa que vai ser reaproveitada, e lavar com água e sabonete não torna o coletor estéril. (...) Mas ao mesmo tempo, a vagina não é estéril. Ela tem uma flora vaginal, então não é a intenção que seja estéril mesmo”.


Dra. Bruna Ghetti do Amaral (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo a médica e os fabricantes, é indicado que se lave o coletor com água e sabonete neutro a cada troca, durante o ciclo, e que ele seja fervido (por cerca de cinco minutos) no início e final de cada ciclo. Muitas mulheres usam, para isso, uma panelinha de vidro esmaltado.

Para as que usam, a satisfação é grande. Em uma pesquisa feita pela empresa de marketing que comercializa uma marca de coletores, 89,63% das mulheres que o compraram aprovam o produto, mais de 50% das mulheres que o utilizam fazem por causa da sustentabilidade e 83,21% consideram-no melhor do que os absorventes tradicionais.

Anna e Elizabeth concordam e, sempre que tem a oportunidade, indicam o método para outras mulheres: “É mais higiênico (feito de silicone cirúrgico e não de uma bola de algodão), você não fica pegando no sangue toda hora, não fede, a longo prazo fica muito mais barato (porque alguns duram até 10 anos), você começa a entender melhor como funciona a sua menstruação e o seu útero, além da óbvia sustentabilidade, porque o descarte de absorventes só atrapalha o Meio Ambiente”, afirma Anna.

Elizabeth completa: “desde que comecei a usar já estou indicando a todas mulheres que conheço. A menstruação é tratada historicamente como um período de dor,sofrimento,e uma série de desconfortos que as mulheres devem passar enquanto desenvolvem suas atividades cotidianas (trabalho, estudo, cuidado com a casa). Sinto que o uso do coletor diminui muito esse desconforto, e nos ajuda a encarar a menstruação de uma outra forma, nos ajuda a entender nosso corpo plenamente”, finaliza.

Para saber mais sobre o coletor, marcas, onde comprar e como colocá-lo, existe um grupo fechado no Facebook chamado ‘Coletor Brasil – Menstrual Cups’. Além disso, cada marca já produziu diversos vídeos explicativos, que estão disponíveis na internet.
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