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Sábado, 27 de abril de 2024

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BARRO E FOGO

Amigos encontram liberdade criativa na cerâmica e abrem ateliê em casa cuiabana na Praça da Mandioca

Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto

Aline e Iuri abriram o ateliê Barro e Fogo há três meses na Praça da Mandioca

Aline e Iuri abriram o ateliê Barro e Fogo há três meses na Praça da Mandioca

A fachada de tijolos vermelhos de uma das casas tradicionais da cuiabania que rodeiam a Praça da Mandioca, no Centro Histórico de Cuiabá, agora abriga o ateliê Barro e Fogo, criado pelos ceramistas Iuri Pompeo e Aline Kelly Paulino Bazzi, de 27 e 34 anos. Além de terem o Direito em comum, curso que Aline é formada e que Iuri se dedicou até o 9º semestre, os dois também buscavam incessantemente por uma forma de expressar o lado criativo que, até então, estava adormecido.

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Quando chegou em Cuiabá, Iuri tinha 18 anos. Ele se mudou de Querência (a 945 km da Capital) para cursar Direito, mas foi a necessidade da liberdade criativa que o levou a desistir da graduação em Direito. 

Mesmo perto de conseguir o diploma, ele percebeu que não estava feliz com o caminho que estava fazendo na vida profissional. Primeiro, ele encontrou o “acolhimento” criativo que precisava na fotografia, que é a profissão de seu pai. 

“Quando me vi no final da faculdade super infeliz, enfrentando demandas psicológicas… Comecei a fazer ensaios fotográficos, comecei a estudar, fui para São Paulo fazer alguns cursos. Quando estava engatinhando, criando um público e uma identidade visual…Veio a pandemia”. 

Confinado dentro da própria casa por conta da covid-19, Iuri começou a fazer autorretratos, mas não havia mercado para ensaios fotográficos por conta do momento delicado causado pelo avanço do vírus. Por acaso, os algoritmos começaram a entregar conteúdos de cerâmica nas redes sociais de Iuri que, quando percebeu, já estava curioso sobre a arte com barro. 

“O plano era voltar aos ensaios depois da pandemia, seguir na fotografia, mas veio a cerâmica. Comecei a fazer fotos das minhas peças e venderam todas. Eu também estava entendendo a situação de deixar a faculdade sem o diploma”. 

O Direito persistiu um pouco mais na vida de Aline, que por dez anos foi proprietária de uma empresa de certificação digital. No entanto, no final de 2019 ficou sem poder trabalhar depois de um processo de auditoria do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI). Três meses depois, ela se matriculou em um curso de cerâmica, onde conheceu Iuri. 

Na primeira aula, Aline brinca que já voltou para casa pensando em formas de fazer com que sua renda principal fossem as peças de barro que são queimadas em temperaturas super altas para se transformarem em cerâmica. 

“Na primeira aula fiz um bowl com flores em volta. No caminho de volta para casa já fui olhando ferramentas, fiquei o dia todo pesquisando sobre isso. Fiquei tentando viabilizar como eu poderia transformar isso em um negócio. Minha ideia inicial era comprar insumos de cerâmica para revender, porque aqui não tem, e conforme fosse desenvolvendo as técnicas venderia peças também. De alguma forma eu queria fazer da cerâmica minha renda principal”. 

Amigos transformaram o coletivo de cerâmica em uma empresa após demanda de encomendas aumentar. (Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto)

Criação do ateliê Barro e Fogo 

Com outras duas ceramistas, Iuri e Aline formaram, primeiro, o Coletivo Barro e Fogo. Mas uma encomenda de troféus para o Prêmio Lixo Zero do Sebrae e a demanda de produção para participarem do IT Bazar, um dos maiores de Mato Grosso, em dezembro do ano passado, fez os dois perceberem que, na verdade, eles já estavam trabalhando na própria empresa. 

“Conseguimos conciliar a coleção cápsula de mesa de jantar, os troféus do Sebrae e as encomendas paralelas. Foi quando vimos que era uma empresa que estava rolando e que tínhamos que dar um passo, porque estávamos trabalhando em casa”, conta Iuri. 

O ceramista explica que, no período atribulado em que precisaram dar conta das duas encomendas que foram replicadas em grande escala, ele e Aline trabalharam em um dos quartos do apartamento, apelidado carinhosamente por ele de “Quarteliê”. 

“Tinham pratos espalhados para todo lado, porque era um quarto pequeno para o tamanho das encomendas. A Aline levou todas as coisas dela para minha casa para podermos trabalhar juntos. Foi caótico”, brinca Iuri. 

Decididos em investir profissionalmente na cerâmica, os dois se apaixonaram pela casa que hoje abriga o ateliê Barro e Fogo na Praça da Mandioca.  No entanto, eles precisaram “convencer” a proprietária a alugar o imóvel, já que ela não queria algo comercial funcionando no local. 

“Conversamos com a proprietária e ela não queria alugar a casa para nenhum ponto comercial, de nada. Acho que ela estava com trauma da pessoa montar um bar. Conversamos muito com ela, explicamos que era um ateliê de cerâmica, que somos zen e o máximo que faríamos era mexer com barro”, conta Iuri aos risos.

Mesmo sem entrar no imóvel, eles já sabiam que queriam montar o ateliê no local. Aline conta que, assim que viram a casa por dentro, foi paixão à primeira vista. Sentados em cadeiras no cômodo que, agora, dá lugar ao espaço de loja do ateliê, ela e Iuri trocam sorrisos ao falarem sobre a paixão pelo novo espaço de trabalho. 

“A gente queria essa casa, mesmo sem entrar nela. Quando entrei e olhei para casa, estava toda pintadinha, o piso antigo vermelho que remete ao barro. Quando olhamos para o carro e fizemos o planejamento... Encaixava direitinho: produção, secagem, queima e loja. Foi por acaso e aleatoriamente, mas tudo foi se encaixando certinho”, elogia Aline. 
 

Chegada da realização profissional 

Cúmplices da mesma paixão pela arte com barro, os dois sonham alto: pretendem equipar ainda mais o ateliê e, no futuro, abrir as portas para oficinas. O intuito deles é fazer com que outras pessoas conheçam a “palavra da cerâmica”, brinca Iuri, e possam sentir o que eles sentem quando transformam blocos de argila em obras de arte esmaltadas. 

Mesmo com apenas três meses passados desde a criação do ateliê Barro e Fogo, Aline e Iuri já colhem os frutos de poderem se expressar criativamente. Ela conta animada sobre os curiosos que passam pelo imóvel e, mesmo sem identificação do ateliê por enquanto, pedem para entrar para ver as peças. 

Primeiro peças passam pela queima "biscoito" e, depois de pintadas com as tintas específicas, são queimadas novamente em alta temperatura para esmaltação. (Foto: Bruna Barbosa/Olhar Direto)

“Esses dias a Aline foi lá na frente receber uma entrega e ela estava dando acabamento em um prato. Saiu fazendo isso e continuou fazendo enquanto atendia o entregador quando passou um casal de carro. Perguntaram se era um ateliê de cerâmica”, lembra Iuri. 

A insatisfação profissional, agora, deu lugar aos sonhos que os dois amigos sonham juntos para o ateliê Barro e Fogo. Além de equipar o local e tirar do papel o projeto de uma loja completa com produtos a pronta entrega, eles também pretendem continuar expressando a criatividade através do barro. 

“Eu babo quando vou na casa de um amigo e vejo uma peça minha de quando estava lá no começo. Estamos fechando o cronograma anual para ver em que momento faremos a nossa coleção. Temos a Supernova até a metade do ano. Talvez em agosto consigamos lançar duas novas coleções para elas ficarem fixas na loja. Quando conseguirmos respirar, ter um paredão de peças biscoitadas só para esmaltar… Vai ficar mais fácil”.
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