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Sábado, 27 de abril de 2024

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Com tratamentos custando até R$18 mil, mulheres com dificuldade para engravidar criam grupo e buscam ajuda do governo

Foto: Isabela Mercuri / Olhar Conceito

Vanessa e Elisângela, as

Vanessa e Elisângela, as

O que para muitos é algo simples e natural, para quinze por cento da população é um pesadelo (e muito caro). Este número é apresentado pelo especialista em reprodução humana, Doutor Georges Kabouk, e se refere à porcentagem de casais que têm dificuldade para engravidar. Os tratamentos são muitos, e o preço salgado de cada tentativa de fertilização in vitro (a única forma de gerar um bebê, para muitas) é de cerca de quinze mil reais. Só que são poucas as que param na primeira.

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Elisângela dos Santos é cuiabana e já tentou a fertilização in vitro, sem sucesso. Ela tentou engravidar por métodos naturais durante três anos, já que em toda sua vida nunca teve alterações nos exames ginecológicos. Depois de procurar o médico especialista, descobriu que suas trompas não funcionavam direito e que ela tinha falência ovariana, ou seja, produzia óvulos ‘mais velhos’ do que o normal. Ficou mais dois anos e meio tentando, mas com as tentativas frustradas, o que falta agora é dinheiro para continuar e realizar seu sonho.

Em junho de 2015 ela decidiu se juntar a outras mulheres com as mesmas dificuldades no estado de Mato Grosso e gritar por ajuda: “Eu sempre pesquisei sobre a fertilização, e vi que nos outros estados existiam grupos, mas não aqui. Por isso criei as Tentantes de Mato Grosso”, explica.

O grupo existe atualmente no Facebook e no WhatsApp, e tem mulheres de diversas cidades do estado. Outra participante é Vanessa Pegorini Garcia. Com 35 anos de idade, já gastou R$34 mil com tratamentos. Sua última fertilização in vitro deu positivo, mas ela sofreu um aborto com dois meses de gravidez: “Além do prejuízo físico fica também o emocional. Tenho medo de tentar de novo”, conta.

Vanessa também soube por acaso que teria dificuldades. Com uma corrida ao médico para operar o apêndice, ela descobriu que tinha endometriose em nível muito avançado. O que ela, Elisângela, e muitas outras mulheres têm em comum, além de estarem no grupo, é a pressa: Para a gravidez, cada ano a mais de vida significa menos óvulos e, consequentemente, menos chances.

Apesar de ser uma doença e ter caráter de urgência, a dificuldade para engravidar é vista por muitos com preconceito: “Muita gente fala que a gente está brigando com Deus, que temos que aceitar. Muitos perguntam porque a gente não adota… mas tem gente no grupo que está há três anos na fila da adoção… Então é muito fácil falar!”, desabafa Elisângela.

Foi ela, também, que com o grupo buscou ajuda do governo para o problema. Com o alto preço e a não cobertura da fertilização pelos planos de saúde, a solução seria fazer o tratamento via SUS: “Eu comecei a pesquisar e vi que algumas mulheres conseguiam liminar para fazer o tratamento pelo sus. Entrei com ação judicial, mas não consegui a liminar. Então, fui orientada a procurar o TFD (Tratamento Fora de Domicílio) da secretaria de saúde, mas também não consegui porque Mato Grosso não tem pactuação com outros estados, ou seja, não investe nestes estados para que eles nos ajudem”, explica a paciente. Segundo ela, ainda, até 2012 o tratamento era feito gratuitamente no Hospital Julio Muller, mas foi suspenso por falta de investimento.

Segundo o Dr. Kabouk, o tratamento da fertilização é considerado caro, mas as pessoas não tem ideia de quanto custam outros tratamentos pagos pelo SUS e pelos planos de saúde. “Além disso, um tratamento de fertilização demora em torno de quinze dias e tem diversos procedimentos embutidos, além da medicação, anestesia, ultrassons e trabalho de laboratório”. O especialista explica que os planos de saúde não são obrigados a cobrir porque a fertilização não está na cartilha da Agência Nacional de Saúde (ANS).

“A infertilidade, apesar de atingir 15% de todos os casais, ainda não é considerada uma doença. As pessoas não consideram o tratamento importante, acham que é uma vontade somente”, afirma Dr. Kabouk. O médico explica, ainda, que o tratamento é urgente pois, por exemplo, para as mulheres de até 35 anos a chance de dar certo é de 60%, mas depois disso diminui. Para uma de 45 anos, a chance é de 1%.

Por entender o caráter de urgência, o médico apoia as meninas na busca pela ajuda governamental. Para Elisângela, a saída seria falar diretamente com o governador e pedir mais investimento na área. “A Secretaria de Saúde sempre nos responde com a mesma coisa, falando sobre a falta de pactuação. Eu acho que só se conseguíssemos falar com o Taques teríamos uma resposta”, afirma.

Para Vanessa, o importante é as pessoas entenderem o sonho e não haver mais preconceito: “As pessoas precisam entender que é um sonho nosso e que é uma doença que precisa de tratamento”.

Outro lado

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de Mato Grosso afirmou:

A Secretaria de Estado de Saúde, por meio da Superintendência de Regulação Controle e Avaliação informa que (06) seis pacientes do estado fazem tratamento em São Paulo de fertilização in vitro. Mas devido a grande procura e a falta de pactuação novas pacientes não estão sendo aceitas. A SES acrescenta ainda que está buscando parcerias, mas ainda está em fase de projeto junto aos estados de Tocantins, Goiás, São Paulo e Rondônia.
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